segunda-feira, 5 de julho de 2010

- Você tem alergia à coberta?
- Sim!
- Eu só tenho um edredom!
- ...

. a falta de edredom me trouxe você

quinta-feira, 24 de junho de 2010

. hoje é dia do vento

Hoje ventou muito, gosto do vento, é como se ele batesse em mim e levasse com ele tudo que amarga, assim como a chuva é capaz de lavar tudo que esta sujo. Não falemos da chuva, afinal, hoje é dia do vento, e de sol, e de azul, e de não-nuvem. Chuva, apenas das gotículas de água saídas do agoador de gramas, sopradas pelo vento, cortando o ar, iluminadas pelo sol. Arco-íris.
Unitri, 24 junho 2010, 10h45
noventoflutuomais.

sábado, 5 de junho de 2010

nofrioconfabulo.

Parecia uma igreja-museu, com dois compartimentos, na parte de baixo ficavam os bancos e o altar, na parte de cima ficavam as coisas que não consegui observar, vi apenas uma janela que dava para a lateral, e um oratório que tinha dentro uma imagem de Nossa Senhora da Aparecida sorrindo e outras duas imagens de cada lado de outros santos que não consegui identificar ou simplesmente imagens de duas pessoas comuns. Todas as imagens eram pequenas e pareciam datar da época de criança. Nossa Senhora da Aparecida criança. Outros santos crianças ou crianças santas. O piso do compartimento de cima era feito de madeira e deixavam frestas donde se observava o compartimento de baixo, as madeiras eram bem frágeis, frágeis ao ponto de deixar quem estivesse em cima com o corpo travado, escolhendo minuciosamente os movimentos dados. Fim.
Sonho da madrugada de 04 de junho de 2010
Em noites frias eu sonho mais.
nofrioconfabulo.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

. dezembro/setembro

desejo o caos,
a calamidade,
chuva forte de dezembro,
só para ver depois
as nuvens se disolvendo [céu limpo]
o sol que estonteia [luz do dia]
a água evaporando [mormaço]
e os passáros cantando,
tempo bom de Setembro.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

. dança do exorcismo

Há muita coisa para gritar, idéias guardadas prontas para saírem de dentro, tules coloridos enlouquecidos para saírem do baú. Caixinha de musica fechada, despertador sem campainha, coito interrompido. Eu grito, não grito, ensaio de grito. Algo arranha o peito, pede pra sair, não sai. Está contido, preso, no ponto. Coração quase rasgando a pele, anseios. Bomba relógio ambulante.

E vão mãos, e vão pés, braços e pernas, e vai tronco e quadril, alastrando, boca e olhos. O nariz suga o mundo, devolve o mundo, respiração. Um oceano saindo pelos poros, água salgada que sai e não volta, suor. Dança do exorcismo.

Eu grito. Eu grito Bolero de Ravel. Eu grito Por Una Cabeza. Eu grito Pink Floyd. Madona, grito também. E Caetano, Bethânia, e família Caymmi. Beirut e Cauby.

Sai, exala, vai embora, evapora, desencarna.

E vão tules coloridos, vários, muitos, milhares pelo ar, sem destino. A bailarina agora dança, louca, desvairada, música instrumental “Por Elise”. “Trins” estridentes de hora em hora. Gozo descontido, porra louca. Boca aberta, garganta livre. Choro, águas saídas do peito. Coração salta a boca, rasga o peito, cai no chão, convulso e sem grades. Corpo jogado ao chão, olhos cerrados, respiração decrescente, boca seca, camisa molhada, silêncio.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

eu,
eu canso
descanço
acordo e durmo
eu como
eu bebo
anseio
acordo e durmo
eu grito
tento
desisto
acordo e durmo
eu sinto
não sinto
finjo
acordo e durmo
eu amo
tenho
não tenho
acordo...
acordo...
acordo...
três dias de insônia,
durmo.

domingo, 17 de janeiro de 2010

. inconstâncias

... vamos passar por tudo, por momentos de alegria e tristeza, prazer e dor, dor com prazer. Seremos felizes, mas no dia seguinte poderemos não ser, poderá morrer alguém, poderá nascer alguém. Superar uma doença trará felicidade, é uma prova de força, mas se surgir outra? Sim, outra doença. Mais grave, mais violenta? O filho que partiu com mágoa, rancor e raiva, volta pra casa de sua mãe, feliz, o outro, o outro não volta mais, morreu atropelado.

Ganhar, perder, quase ter, quase ser, ser, ter. Satisfeito? Agora sim, mas e daqui alguns segundos? Insatisfeito? Agora sim, mas e daqui alguns segundos? Um telefonema muda tudo, uma palavra muda tudo, um virar de um carro na contramão muda tudo, um respirar mais forte tudo muda, a sua presença, a sua ausência, a sua impaciência, a sua boa vontade muda tudo, o bater de asas do beija-flor, a flor que murchou, o sol que não veio, o copo que caiu, o grito, a água que evaporou... Conseqüências.

É previsível, pra ser feliz ouve tristeza, se há tristeza haverá felicidade. Viver. Viver é bom, mas dá medo. Mas o que seria da vida sem o medo? Ninguém nasceu numa bolha, exceto “o menino da bolha” que com certeza estava com muito mais medo da vida do que qualquer um fora dela.

Amores virão, medo de agulha virá, a independência virá, o branco em cena virá também, também virá a tolerância, a ignorância e suas conseqüências, virá mais amigos, irão mais amigos, irá a idade, virá a solidão, virá um sobrinho, irá o tédio, ainda virá a faculdade de Teatro, irá a insegurança. E nesse ir e vir a gente até esquece que a vida é simplesmente inconstante e enquanto isso a gente cresce e ...